RITO ADONHIRAMITA OU MAÇONARIA ADONHIRAMITA
DISMISTIFICANDO O RITO ADONHIRAMITA
Doutrina e Simbologia
Introdução
Segundo uma corrente histórica fortemente adotada na nossa Sublime Instituição e, particularmente no Rito Adonhiramita, a Maçonaria teve origem nas antigas Fraternidades Iniciáticas do Egito. Destas, recebeu as tradições simbólicas que, com o maior cuidado e zelo, guarda intactas, a fim de poder transmiti-las aos seus Iniciados.
De acordo com uma antiga lenda, existia no Oriente uma ordem filosófica chamada "Sociedade de Ormuzd ou Sábios da Luz", fundada por um Sacerdote Seráfico de Alexandria, conhecido também como Sábio de Memphis, convertido por São Marcos por volta do ano 43 d.C. Em seguida, o referido Sábio converteu seus adeptos, modificando a doutrina dos egípcios segundo os princípios do recém-fundado Cristianismo. De acordo com os relatos, essa ordem professava um misto de doutrinas egípcia e cristã, e auto-denominava-se "Sábios da Luz". Era uma ordem repleta de alegorias e mistérios, que trazia como emblema uma "Cruz Vermelha".
Os Sábios da Luz, únicos repositórios da sabedoria egípcia purificada pelo Cristianismo, reuniam-se em uma escola chamada "Da Ciência de Salomão", de origem essênio-judaica, de onde talvez tenha surgido a Maçonaria.
De acordo com os relatos históricos, após a tomada de Jerusalém por Saladino (1187), discípulos dessa antiga escola fundaram na Europa a Ordem dos Cavaleiros do Oriente, onde ensinavam altas ciências. Com base em correntes literárias, seus vestígios foram encontrados por volta de 1196. Diz-se que Eaymond Lully a ela pertenceu e foi quem iniciou Edward, o filho de Henry III, rei da Inglaterra.
A Possivel Influência de Samuel Prichard no Rito Adonhiramita
Samuel Pritchard (nascido em Londres por volta de 1685), filho de Samuel Pritchard, era um maçom entusiata, escritor e panfletista. Foi o primeiro maçom que ousou publicar um panfleto contendo a Lenda do Terceiro Grau, retratando a personagem Hiram, além dos graus de Aprendiz e Companheiro, em protesto contra a Grande Loja da Inglaterra e o seu Grão-Mestre, o então Thomas Howard.
Sua obra, "Maçonaria Dissecada" (Masonry Dissected), foi publicada pela primeira vez em Londres, em 02 de outubro de 1730, sendo republicado nos dias 21 e 31 do mesmo mês. O panfleto era incrivelmente pequeno: a primeira edição tinha apenas 33 páginas e media 18 cm por pouco menos de 13 cm. Foi oferecido à venda pelo jornal "Daily Journal". Em apenas onze dias, a obra teve três edições, além de ser reimpressa em dois jornais, continuando a ser vendida rapidamente por muitos anos. Em poucos anos, foi traduzida para o holandês, alemão e francês, e várias edições foram publicadas na Escócia.
O panfleto de Prichard, assim como um catecismo intitulado "O Mistério da Maçonaria" (The Mystery of Free-Masonry, de 15 de agosto de 1730), levou a Grande Loja a tomar medidas para impedir a admissão de falsos Maçons em uma Loja regular, exigindo que o visitante fosse coberto.
Este ritual teria sido o primeiro escrito oficialmente publicado a conter a "Lenda do Terceiro Grau". É sabido que o primeiro ensaio sobre esta lenda aparece no Manuscrito de Grahan, publicado em 24 de outubro de 1726, como uma lenda Noaquita em que se menciona a procura do corpo de Noé, pelos seus três filhos Sam, Sem e Jafet para descobrirem a palavra secreta da aliança de Noé com Deus.
É possivel que Grahan tenha sido a fonte de inspiração de Samuel Prichard para compilar sua obra intitulada "Massonaria Dessecada" com os três graus simbólicos.
O Rito Adonhiramita ou Maçonaria Adonhiramita
O Rito Adonhiramita ou Maçonaria Adonhiramita foi criado e compilado por Louis Travenol (Louis Antoine Travenol: 1698 - 1783, Paris) em 1738, com a publicação de seus primeiros rituais em 1740 (Catéchisme dés Francs Maçons ou Le Secret dés Francs Maçons). Teve como base, talvez, o antigo Rito Inglês Primitivo, a princípio com três graus simbólicos. O Rito sofreu a primeira adaptação ao filosofismo pelo Barão de Tschoudy (Louis Theodore Henri Tschoudy: 1727, Metz - 1769, Paris-França) com a participação de Pirlet (Jean Baptiste Thomas Pirlet: 1717, Namur, Bélgica - 1791, Paris-França); e uma segunda adaptação e compilação por Saint-Victor (Louis Guillemain Saint-Victor: 1722 - 1803, Paris-França), no compêndio denominado "Recueil Precieux de La Maconnerie Adonhiramite", que nada alterou no obra de Travenol.
O Rito Adonhiramita nasceu, portanto, no seio da Franco-Maçonaria Francesa, com a finalidade de resgatar a essência e a pureza da antiga Ordem dos Pedreiros-Livres.
A Criação do Rito Adonhiramita
Louis Travenol criou o Rito Adonhiramita, talvez em conformidade com as normas e diretrizes da Maçonaria Inglesa primitiva (Samuel Pritchard: Maçonaria Dissecada (1730) ou Manuscrito de Graham (1726)), transformando-a em um verdadeiro professorado filosófico.
Ele purificou o simbolismo, expurgando os traçados de cunho exotérico e religiosos que nada tinham a ver com a Ordem dos Pedreiros. Corrigiu o principal personagem da Lenda do Terceiro Grau (Hiram Abiff para Adonhiram – em referência ao Livro da Lei - Velho Testamento), excluindo as especulações do luterismo, hermetismo e templarismo, além das ideias cavalheirescas e cabalísticas presentes nos traçados das obras publicadas até aquele momento, que não se relacionavam com os princípios genuínos da Maçonaria Especulativa. Ele também desenhou as disposições de um Templo Maçônico, seus mobiliarios e painéis, ainda não existentes na época.
Para Travenol, os graus simbólicos representavam a mais pura Maçonaria, um sistema de ensino que transformava o Homem comum em verdadeiro Professor e Filósofo: "A Evolução Racional da Espécie Humana".
A Trajetória do Rito Adonhiramita na Europa
Conforme registros do Grande Oriente da França, foi criada em 1773 uma comissão para compilar e organizar os Altos Graus maçônicos. A partir daí, começaram a surgir Capítulos e Conselhos objetivando gerir os ditos graus. Neste momento de explosão e euforia maçônica, Alexandre Roëttiers de Montaleau (Alexandre Louis Roëttiers de Montaleau: 22/11/1748 - 30/01/1808, Paris-França) propôs a formação de uma comissão especial para estudar os graus e ritos existentes naquele país, buscando compilar um sistema ordenado que contemplasse toda a filosofia em um único compêndio.
Neste efervescer de acontecimentos próprios da época, surge então, em 1781, um sujeito de nome ou pseudônimo denominado de Louis Guillemain de Saint-Victor, com a publicação de um compêndio denominado “Recueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite” (1ª Ed. – A Philadélphie/Philarethe), cujo conteúdo continha os graus simbólicos na íntegra de Louis Travenol.
Em 1785, o Grande Capítulo Geral da França entregou seu trabalho de "Síntese dos Altos Graus Franceses". No ano seguinte (depois do falecimento de Travenol), Saint-Victor publicou a segunda edição da Coleção Preciosa. Ele apresentava um compêndio com 12 Graus, sendo o Grau Rosa-Cruz o "nec plus ultra" (conforme os rituais compilado por Tschoudy para o Conselho dos Imperadores), seguido de um texto inserido no final da nova edição, informando em notas, tratar-se simplesmente de uma curiosidade maçônica.
Saint-Victor afirmava que o grau chamado "Cavaleiros Noaquita ou Prussiano" não teria nenhuma conexão com a série anterior de doze graus apresentada por ele, deixando claro em notas que o havia trazido para o seu segundo volume apenas a título de complemento e curiosidade maçônica. O conteúdo era uma tradução de um compêndio alemão do Grande Inspetor Geral das Lojas Prussianas, Conde de Saint-Gellaire, que havia sido traduzida em 1757 do germânico para o francês por Bérage. Neste mesmo ano, Saint-Gelaire fundou o Capítulo Noaquita em Paris.
Autores variados da época afirmavam em suas obras literárias que o compêndio publicado por Saint-Victor teve repercussão extremamente positiva. Tanto que, após o lançamento da primeira edição, no mesmo ano, houve a segunda edição da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita (Nota: A editora que imprimiu a compilação chamava-se Filadélfia, em Paris, e não se tratava da cidade da Filadélfia, como os autores citam em suas obras). Esta obra se tornou uma referência canônica do Rito Adonhiramita. Foi através dela que o Rito alcançou ampla divulgação e expansão na Europa, chegando a se tornar o principal rito do Grande Oriente Lusitano, sendo exportado para suas colônias. Na França, tornou-se o padrão da Maçonaria Ortodoxia.
RITO ADONHIRAMITA: DO DECLINIO AO SUCESSO
O Surgimento Oficial do Rito Adonhiramita no Brasil
Alguns autores acreditam na possibilidade de as Lojas “Reunião” (Grande Oriente da Ilha da França: 1801-1805) e “Distintiva” (1812) terem sido fundadas no Rito Adonhiramita por conta do intercâmbio de viajantes portugueses e franceses da época para a cidade do Rio de Janeiro. Infelizmente, não há prova documental.
Pode-se afirmar que o rito foi oficialmente instalado no Brasil em 15 de novembro de 1815, com a fundação da Loja Maçônica "Comércio e Arte". Seus trabalhos foram interrompidos precisamente em 30 de março de 1818, quando o Imperador D. João VI emitiu um Alvará Régio de "Lesa Majestade", obrigando as sociedades secretas de qualquer forma e denominação no território luso-brasileiro a cessarem suas atividades. Esta data, 15 de novembro, é considerada o "Dia da Maçonaria Adonhiramita".
A Loja Comércio e Arte retomou suas atividades novamente em 24 de junho de 1821. Precisamente em 17 de junho de 1822, a Loja, seguindo o modelo da Bahia, dividiu-se em três: “Loja Maçônica Comércio e Artes na Idade do Ouro”, “Loja Maçônica União e Tranquilidade” e “Loja Maçônica Esperança de Nictheroy”. A partir dessa divisão, formou-se o segundo Grande Oriente no Brasil, denominado "GRANDE ORIENTE BRAZILEIRO" (BRASÍLICO OU BRASILIANO), com sua sede instalada na Rua do Conde, mas de efêmera duração. Essa Potência abateu colunas meses depois.
Os primeiros rituais, resultado de uma tradução da Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhiramita, surgiram em 1833. Sua impressão foi homologada e autorizada em 1836, sendo impressa sua primeira edição pela Tipografia Astral.
A Fundação da Oficina Chefe do Rito Adonhiramita
A Oficina Chefe do Rito Adonhiramita nasceu, portanto, no seio do Grande Oriente do Brasil do Vale do Lavradio (Potência instalada em 23/11/1831 pelo monarquista José Bonifácio). Essa Potência governava os graus simbólicos e filosóficos dos ritos Adonhiramita, Moderno e REAA. Além dos ritos citados, o Grande Oriente do Brasil reconhecia e praticava o Rito de Adoção (instalado em solo brasileiro), conforme contam em seus boletins informativos (Biblioteca Nacional: 1872-1899). A mais famosa dentre todas as Lojas do Rito de Adoção gobiana foi a Loja União Escocesa.
A Loja Comércio e Artes da Idade do Ouro, que estava adormecida desde 1822, retomou suas atividades no Rito Escocês Antigo e Aceito, filiando-se ao Grande Oriente Brasileiro (conhecido também como Grande Oriente do Passeio, fundado em 1830 e instalado em 24/06/1831 pelo Senador Vergueiro). O monarquista José Bonifácio, inconformado, fundou uma Loja homônima, no Rito Moderno, de efêmera duração.
A primeira Loja do Rito Adonhiramita a ser fundada no Grande Oriente do Lavradio foi a “Sabedoria e Beneficência”, na cidade de Niterói, que encerrou suas atividades em 1850. Em 1839, surgiu a segunda Loja do Rito, denominada “Firmeza e União” (no mesmo ano em que o Grande Oriente do Brasil instituiu o "Grande Colégio dos Ritos Azuis", incluindo o Rito Adonhiramita).
Em 1854, com a incorporação regular do Rito Escocês Antigo e Aceito ao GOB, o “Grande Colégio dos Ritos Azuis” sofreu uma transformação significativa, tendo em vista que o REAA exigia um governo descentralizado. Desta forma, foi criado em 1855 o “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” (Ritos Moderno e Adonhiramita), que comporia colateralmente o Supremo Conselho do REAA. O “Sublime Grande Capítulo dos Ritos Azuis” teve efêmera duração.
Em 1863, menos de dez anos após sua criação, ocorreu a dissidência liderada por Saldanha Marinho, quando foi criado e instalado o “Grande Oriente do Brasil do Vale dos Beneditinos”. As Lojas fundadoras da nova Potência foram: Caridade, Comércio, Dezoito de Julho, Estrela do Rio, Imparcialidade, Philantropia e Ordem e Silêncio.
Em 1865, o GOB do Vale dos Beneditinos foi reconhecido pelo Grande Oriente da França e pelo Grande Oriente Lusitano como Potência legal e legítima para o Império do Brasil. A partir deste momento, a Maçonaria brasileira cresceu e floresceu por toda a Corte.
Passados dez anos após a cisão, precisamente em 21 de junho de 1870, o Dr. Joaquim Saldanha Marinho propôs ao Visconde do Rio Branco (Grão-Mestre do Grande Oriente do Lavradio) a fusão da Maçonaria brasileira em uma única grande família. Após um ano da proposta, acordaram-se os termos da votação para a fusão. A votação ocorreu em duas sessões: a primeira, em 29/05/1872; a segunda, em 04/06/1872; sendo aprovada através do Decreto 01/1872 e do Decreto 02/1872. Como resultado da fusão, nasceu o Grande Oriente Unido do Brasil. O Grão-Mestre Provisório nomeado para administrar o novo corpo foi o Dr. Antônio Felix Martins (Barão de São Félix).
Em setembro do mesmo ano, foi realizada a eleição para o cargo de Grão-Mestre, sendo vencedor Saldanha Marinho, com 222 votos válidos contra 190. Inconformado por ter sido derrotado nas urnas, o Visconde do Rio Branco declarou nula a fusão através do Decreto nº 13/1872 (16/09/1872). A partir da edição do citado decreto, retomaram a atividade as Potências, ou seja, o Grande Oriente do Brasil do Vale dos Beneditinos e o Grande Oriente do Brasil do Vale do Lavradio. Nesta ocasião, passaram a coexistir quatro Potências Maçônicas distintas: GOB-L, GOB-B, GOUB (nova Potência resultado da fusão) e GOB-P.
Em 1874, o Grande Oriente do Brasil do Vale dos Beneditinos cessou suas atividades definitivamente, sendo extinto. Suas Lojas filiaram-se no GOUB.
O Rito Adonhiramita foi muito bem-sucedido no Grande Oriente Unido do Brasil. O número de Lojas do Rito suplantou o número das Lojas do GOB-L (cinco contra duas Lojas). Assim, a nova Potência (resultado da fusão de 1872) criou o “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas” através dos arts. 31 e 44, parágrafo 3º, de sua Constituição, promulgada através do Decreto Nº 04, de 23/09/1872. (A sessão nº 1 ocorreu em 3 de outubro de 1872, quando foi realizada a primeira eleição, sendo empossados seus Grandes Oficiais no dia 9 de novembro de 1872, na sessão nº 2). Seu primeiro Grão-Mestre foi o Visconde de Ponte Ferreira (Dr. João Fernandes Tavares).
No GOB-L, existiam duas Lojas Adonhiramitas: a “Firmeza e União II” (1854) e a “Aliança” (1869). Para concorrer com o GOUB, foi fundada em 1872 uma terceira Loja, denominada “Redenção”, perfazendo, assim, três Lojas Simbólicas. Com essas Lojas, o GOB criou, através do Decreto nº 21, de 2 de abril de 1873, um homônimo (cópia), com a mesma denominação, ou seja, “Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas”. Seu Grão-Mestre nomeado foi o Dr. Joaquim José da Cunha Guimarães.
Passados três anos do falecimento do Visconde do Rio Branco (01 de novembro de 1880), e ao completar dez anos da tentativa de fusão (1872), o Dr. Joaquim Saldanha Marinho, demonstrando todo seu amor pela Maçonaria e empregando todos os meios para sua unificação, propôs novamente uma nova fusão, que foi efetuada no dia 21 de dezembro de 1882. A partir de janeiro de 1883, passou a existir tão somente um Grande Oriente (com a extinção do Grande Oriente do Brasil do Vale do Lavradio e do Grande Oriente Unido do Brasil), denominado simplesmente "Grande Oriente do Brasil - GOB". Com a fusão, a Maçonaria Adonhiramita se solidificou em uma única família brasileira. Em 1883, o novo GOB contava com as seguintes Lojas Adonhiramitas Capitulares:
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Aurora, Belém, PA
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Discrição, RJ
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Fraternidade Alagoana, Maceió, AL
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Liberdade e Fraternidade, RJ
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Modestia, Morretes, RS
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Mistério, RJ
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Perfeita Amizade Alagoana, Maceió, AL
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Segredo, RJ
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União e Fidelidade, Santarém, PA
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Liberdade, RJ
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Firmeza e União II, MA
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Aliança, RJ
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Redenção, RJ
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Asilo da Prudência, RJ
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Frank-Hiramita, RJ
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Descrição, RJ
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Aliança e Vigilância de Niteroy, RJ
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Luiz de Camões, RJ
As Cisões no Grande Oriente do Brasil
Fundação do Grande Oriente de São Paulo (GOSP)
Surge então, em 1893, um grupo de Lojas insatisfeitas com o resultado da fusão dos dois Grandes Orientes, lideradas pelo Dr. Martim Francisco Ribeiro de Andrada III. Desejando a independência e autonomia da Maçonaria paulista, resolveram fazer uma nova cisão, criando, em 28 de maio de 1893, um novo corpo maçônico, autônomo e independente, denominado GOSP - GRANDE ORIENTE DE SÃO PAULO (1993-1901). As Lojas que idealizaram a fundação da nova corporação maçônica, e que foram destacadas pelos jornais da época, foram: Loja América, Loja Harmonia e Caridade, Loja Itália, Loja Roma, Loja 7 de Setembro, Loja União Paulista e Loja 20 de Setembro. Na mesma data, foi fundada a Loja Maçônica 28 de Maio, no Rito Moderno. Nos meses seguintes, outras Lojas foram fundadas e filiadas ao GOSP.
O primeiro Grão-Mestre nomeado para dirigir o GOSP foi o Dr. Martins Francisco Ribeiro de Andrada, tendo como 1º e 2º Grandes Vigilantes, Grande Orador e Grande Secretário, respectivamente: Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, Dr. Gerônimo Couto, Dr. Lambert César Andreini e Geraldo Bibas.
Através do Decreto 119, de 22 de junho de 1894, o Grande Oriente do Brasil suspendeu os direitos das Lojas que fundaram o GOSP, expulsando-as perpetuamente da Potência.
Inspiradas pela Maçonaria paulista, entre 1894 e 1899, ocorreram outras cisões nos estados de Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, causando um efeito colateral na Maçonaria brasileira.
Em 1897, conforme relatavam os jornais da época, houve uma tentativa de unificação do GOB com GOSP, sem sucesso. No mesmo ano, as Lojas América e Itália romperam com o GOSP e retornaram para o GOB. Nesta mesma época, o GOSP fundou um novo Supremo Conselho independente, federado ao Supremo Conselho Italiano, com sede em Nápoles. As Lojas subordinadas ao GOSP praticavam o REAA, enfraquecendo substancialmente o Rito Adonhiramita.
Graças à persistência, carisma e liderança dos Grão-Mestres Quintino Antônio Ferreira de Sousa Bocaiuva, seguido de Lauro Nina Sodré e Silva, em 1901, concretizou-se a fusão do GOSP e GOB, quando houve a alteração da Constituição do GOB e a criação e instalação das Potências Estaduais. Nesta data, o GOSP passou a ser Potência Estadual, denominado Grande Oriente Estadual de São Paulo - GOESP.
As Lojas Roma e Itália, através dos Decretos 181 e 282, datados de 30 de abril de 1901 (Boletim do Grande Oriente de Brasil, Ano 1901/Edição 00001-0002), foram reintegradas à federação.
Fundação do Grande Oriente Independente Paulista (GOIP)
As Lojas Maçônicas "Sadi Carnot (Piratininga)", "Germinal" (Piratininga), "Humanitas" (Piratininga) e "Rio Branco II" (São José dos Campos) fundaram em 1903 (Diário da Tarde, Ano 1903 Edição 01279) uma nova Potência Simbólica Estadual independente, denominada GOIP - GRANDE ORIENTE INDEPENDENTE PAULISTA (1903-1919). A ela foi incorporada, em 1908, a Loja Maçônica "Amor e Caridade nº 313", que estava adormecida desde 1887 (extinção do Grande Oriente Brasileiro). Nos anos seguintes, outras Lojas foram sendo incorporadas e fundadas ao GOIP. A nova Potência foi instalada pelo Grande Oriente do Rio Grande do Sul, tendo como seu primeiro Grão-Mestre o Coronel Antônio de Carmo Branco.
Com a posse do Grão-Mestre Nilo Procópio Peçanha, as Lojas dessa Potência foram sendo, aos poucos, incorporadas no GOESP - Grande Oriente Estadual de São Paulo (resultado da fusão do GOSP e GOB em 1901). Em 1919, o GOIP - GRANDE ORIENTE INDEPENDENTE PAULISTA foi definitivamente extinto e suas Lojas incorporadas ao GOB ou adormeceram.
Fundação do Grande Oriente Autônomo de São Paulo (GOASP)
Em 09 de janeiro de 1916, as Lojas italianas independentes "Libertas", "Fratellanza Universale", "Giustizia" e "Giuseppe Mazzini" fundaram uma nova Potência Simbólica no Estado de São Paulo, denominada GOASP - "GRANDE ORIENTE AUTÔNOMO DE SÃO PAULO (1916-1922)". Foi incorporada ao projeto a Loja Maçônica "Lavouro Fratellanza" (Cravinhos). Foi aclamado como Grão-Mestre o Prof. Dr. Arthur Guaniery, tendo como Grão-Mestre Adjunto o Dr. Antônio Piccarollo, ambos italianos.
Naquele momento, passaram a existir as seguintes Potências Simbólicas no Estado de São Paulo: a) GOASP; b) GOIP; c) GOESP (GOB).
Todas as Lojas do GOASP eram formadas por imigrantes Italianos e seus descendentes. Essa Potência dedicou-se intensamente às causas operárias e ao socorro mútuo dos necessitados paulistas afetados pela Gripe Espanhola. Tinha como lema e bandeira: "O Amor e a Fraternidade". No momento em que o Brasil enfrentava a Gripe Espanhola, ao contrário das demais Potências, o GOASP transformou suas instalações em prontos-socorros para atender a população. Essa Potência tinha relações fraternais com o Grande Oriente de Itália (GOI).
Com a renúncia ao cargo de Grão-Mestre em 1921 pelo Prof. Dr. Artur Guaniery, as Lojas do GOASP passaram a aderir ao GOESP, levando a Potência à extinção. As Lojas Francisco Ferrer (São Paulo) e Águia Negra (Espírito Santo do Pinhal), logo após a posse do Grão-Mestre Mário Marinho de Carvalho Behring, retornaram ao GOB em 1922.
As Idas e Vindas do GOSP ao GOB
Nilo Procópio Peçanha tomou posse em 1917 como Grão-Mestre do GOB, e a crise na Maçonaria paulista retomou força e vigor. Conforme relatam documentos históricos arquivados na Biblioteca Nacional, logo após sua posse, os ânimos dos Maçons paulistas se alteraram (1917-1921), quando teve início uma série de eventos que levariam a uma possível dissidência da Maçonaria paulista.
De acordo com José Castellani e outros autores, em 1921, o Grão-Mestre Estadual do Grande Oriente Estadual de São Paulo, Dr. José Adriano Marrey Júnior, convocou uma reunião com as 65 Lojas paulistas para decidir as atitudes que deveriam ser tomadas sobre uma nova cisão. Foi votada a proposta de Marrey Júnior de retirar o Grande Oriente Estadual das fileiras do GOB. Das 53 Lojas participantes dessa reunião, apenas a Loja Piratininga votou contra a separação, justificando seu voto e retirando-se da reunião. O Poder Central reagiu violentamente, declarando pelo Decreto nº 694, de 27 de outubro de 1921, a suspensão do Grande Oriente do Estado de São Paulo e a cassação das Cartas Constitutivas das Lojas dissidentes.
Em 1928, o Dr. Marrey Jr. e Octávio Kolly celebraram um novo acordo para o retorno do Grande Oriente de São Paulo ao GOB. Entretanto, só foi reincorporado definitivamente com a assinatura do Decreto nº 939, de 11 de maio de 1929, tornando-a novamente Potência Estadual, onde permaneceu até 2018, quando se desfederalizou.
Fundação das Grandes Lojas Simbólicas do Brasil
Em 1927, Otávio Kelly passou a ser Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil e, de acordo com a legislação vigente, declarou que assumiria o alto posto do Supremo Conselho. Marcou então uma reunião de seu Conselho Geral para o dia 20 de junho de 1927. Alguns dias antes, em 17 de junho, Mário Behring realizou uma reunião extraordinária do Supremo Conselho, tomando decisões importantes, como a de expedir Cartas Constitutivas às Grandes Lojas que estavam sendo criadas nos estados da federação. Como segunda medida, entre outras decisões tomadas naquela célebre reunião, foi a de romper relações com o Grande Oriente do Brasil. Na oportunidade, foi declinado que o Soberano Comendador seria elegível pelos membros efetivos e que o Grão-Mestre não necessariamente deveria ter graus além de Mestre Maçom. Quando o Grão-Mestre Otávio Kelly realizou a reunião do Grande Oriente do Brasil no dia 20, a separação definitiva dos graus simbólicos e filosóficos já estava decidida pelo Supremo Conselho de Mário Behring.
O Brasil estava iniciando as mudanças para adaptar-se às exigências da III Conferência Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito em Lausanne, realizada de 29 de maio a 2 de junho de 1922. Foi lá que iniciou a derradeira exigência para que os Supremos Conselhos fossem independentes. O Supremo Conselho era o legítimo detentor do Rito Escocês perante os outros 35 Supremos Conselhos no mundo, com os quais Mário Behring manteve profícuo relacionamento durante anos.
Da cisão criada por Behring no seio do Grande Oriente do Brasil, surgiram as primeiras Grandes Lojas Simbólicas no Brasil, as quais foram regularmente instaladas sob a autoridade de Cartas-Patentes Constitutivas outorgadas pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito para a República Federativa do Brasil. Foram elas:
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Grande Loja da Bahia, fundada em 22/05/1927
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Grande Loja do Rio de Janeiro, fundada em 22/06/1927
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Grande Loja de São Paulo, fundada em 29/07/1927
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Grande Loja da Paraíba, fundada em 24/08/1927
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Grande Loja do Amazonas, fundada em 24/06/1927
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Grande Loja de Minas Gerais, fundada em 26/09/1927
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Grande Loja do Rio Grande do Sul, fundada em 08/01/1928
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Grande Loja do Pará, fundada em 28/07/1927
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Grande Loja do Ceará, fundada em 19/03/1928
A partir da fundação dessas Grandes Lojas e com o apoio do Supremo Conselho de Behring, foram fundadas outras Grandes Lojas autônomas e independentes em todos os estados da federação brasileira.
As Lojas Adonhiramitas que aderiram às Grandes Lojas Simbólicas do Brasil passaram a praticar o Rito Escocês Antigo e Aceito.
Outras Cisões na Maçonaria Brasileira
A Maçonaria mineira e paulista romperam novamente com o Grande Oriente do Brasil. Cisões estas que foram apagadas dos anais da história da Maçonaria mineira e paulista. Os autores e pesquisadores maçônicos desconhecem ou omitem esses fragmentos da história. Foram dezenas de Lojas que deixaram as fileiras do Grande Oriente do Brasil para constituir novos corpos autônomos entre 1944 a 1948.
Precisamente em 12/09/1944, no Oriente de Belo Horizonte, MG, reuniram-se Maçons membros das Lojas "Deus, Humanidade e Luz", "12 de Setembro", "21 de Fevereiro", "Major João Pereira", "Hirã", "Caridade e Justiça" com o objetivo de romper com o Grande Oriente do Brasil e constituir um novo corpo maçônico naquele estado. Aprovada a fundação, o novo corpo passou a ser denominado Grande Oriente de Minas Gerais, tendo como seu primeiro Grão-Mestre o Cel. José Persilva.
Seguindo o modelo de São Paulo, precisamente em 30/08/1957, o Grande Oriente de Minas Gerais (autônomo), através do Decreto nº 1.789, iniciava as tratativas para ser incorporado ao Grande Oriente do Brasil. Precisamente em 08/11/1960, foi celebrado um convênio de incorporação de dois Grandes Orientes de Minas Gerais. Através do Decreto nº 1877, de 17/12/1960, o Grande Oriente de Minas Gerais foi incorporado ao Grande Oriente Estadual de Tiradentes Minas Gerais. Esse novo Grande Oriente, resultado da fusão, passou a ser denominado Grande Oriente Minas Gerais.
Em 1948, em São Paulo, com a proposta da construção do Palácio Maçônico do Grande Oriente de São Paulo - GOSP, os ânimos dos Maçons se alteraram. 50 Lojas, sob a liderança do Dr. Jurandir Piures Ferreira e outros Maçons, deixaram o GOSP e fundaram, no dia 13/03/1948, o "Grande Oriente Unido" e seu Soberano Supremo Conselho. A administração provisória da nova Potência ficou sob o comando e direção do Grão-Mestre provisório nomeado, Dr. J. B. Osmane Vieira de Rezende, servindo como Secretário e Orador, respectivamente, Dr. José Benedito de Oliveira Bomfim e Dr. Domiciano Pedreira. Em 22/12/1956, através do Decreto 1767 e Ato Complementar 2.479, o Grande Oriente Unido, com suas 52 Lojas paulistas, foi incorporado ao Grande Oriente do Brasil, conforme publicado no Boletim nº 82/Edição/1957.
Em Minas Gerais, foi fundado o Grande Oriente de Tiradentes e seu Supremo Conselho. Em 05/06/1953, esse Grande Oriente foi incorporado ao Grande Oriente do Brasil, passando a ser denominado Grande Oriente Estadual de Tiradentes Minas Gerais. Mais tarde, fundiu-se com o Grande Oriente de Minas Gerais.
Em 1973, ocorreu uma das maiores cisões na Maçonaria brasileira, surgindo os Grandes Orientes Independentes, atualmente (COMAB), voltando a enfraquecer o Rito.
Todas as cisões ocasionaram perdas irreparáveis para o Rito Adonhiramita e para o Sublime Capítulo dos Cavaleiros Noaquita para o Brasil, levando o Rito e sua Oficina Chefe quase à extinção.
A Oficina Chefe da Maçonaria Adonhiramita
O Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas passou a se chamar, em 1953, "Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil", Oficina Chefe do Rito, autônoma e independente.
Conforme documentos históricos, em 15 de abril de 1968, foi assinado um tratado de aliança e amizade entre o Grão-Mestre do GOB, Dr. Álvaro Palmeira, e o Presidente do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, Dr. Josué Mendes.
Em 1973, ocorreu uma grande reviravolta no Rito Adonhiramita. Neste ano, treze Grandes Orientes Estaduais desligaram-se do GOB, significando uma perda catastrófica para o Rito. A maior parte das Lojas praticantes do Rito Adonhiramita que fundaram ou migraram para as potências autônomas passaram a praticar o Rito Escocês.
Para recuperar o Rito Adonhiramita dentro do GOB e dentro do “Muito Poderoso e Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil”, era necessário atrair Maçons de outros ritos. Dessa forma, em 1973, o Capítulo mudou sua denominação social para “Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita” (ECMA). Restava ainda a completa reformulação do Rito para que se tornasse mais atrativo para uma população maçônica majoritariamente do REAA, ou seja, habituada a um sistema de 33 graus e que não se sentiria atraída por um rito com apenas 13 graus.
Precisamente em 02 de junho de 1973, ocorreu uma reforma administrativa que transformou o Sublime Capítulo no Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita, passando, a partir de então, de 13 para 33 graus.
Em poucos anos, o Rito Adonhiramita estava completamente transformado ou, poderíamos dizer, destruído em sua essência (reneado). Foi introduzido no Rito o que se chama de "Cerimônias Extras" que nada têm a ver com os rituais originais, tais como: cerimonial de incensação; cerimonial das luzes; movimento para troca de bolsa; infinito; uma acentuada influência ocultista e uma tendência a contínuas modificações que nada têm a ver com o rito; um misto de religião e ocultismo com base nas obras de Jorge Adoum e Rosa-Cruzes. Mas, como esperado, as alterações surtiram efeito, e Maçons de todos os ritos e culturas começaram a migrar para o Rito Adonhiramita.
A Perda da Qualidade de Oficina Chefe do Rito Adonhiramita no Brasil
Em 2010, a Maçonaria Adonhiramita fez o caminho de volta à Europa (sua origem), passando a ser praticada novamente em Portugal. Naquele ano, o Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita instalou e consagrou em solo português o ECMAP - Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal, como o único, legal e legítimo "Oficina Chefe" do Rito Adonhiramita para Portugal, firmando tratado de mútuo reconhecimento e amizade.
Com as irregularidades na época na então administração do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita e a suspensão dos direitos maçônicos pelo GOB de quase todos os membros de seu corpo administrativo, o ECMAP rompeu o tratado de mútuo reconhecimento e amizade em 2013 com o ECMA, declarando-o irregular. Diante da situação que atravessava a Maçonaria Adonhiramita no Brasil, houve a necessidade de ser instalada uma nova Potência Filosófica em solo brasileiro. Assim nasceu, em 2013, o Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Brasil - ECMAB, sendo instalado pelo ECMAP.
O ECMAB mudaria seu nome em 2016 para Supremo Conselho Adonhiramita do Brasil - SCAB. Desde então, o SCAB passou a ser considerado a única, regular, legal e legítima Oficina Chefe do Rito Adonhiramita em território nacional, guardião legítimo de sua liturgia.
Infelizmente, o ECMA, uma Potência Filosófica sesquicentenária, não conseguiu restabelecer sua regularidade perante a Maçonaria regular nacional e internacional. Os atos irresponsáveis de seus dirigentes causaram um estrago quase irreparável para o Rito e para a Maçonaria brasileira.
Conclusão
O Catecismo mais antigo da França contendo a Lenda do terceiro Grau é, oficialmente, o "Catéchisme des Francs-Maçons" de Louis Antoine Travenol, talvez inspirado na obra de Samuel Prichard (1730) ou Grahan (1726). Essa obra canônica da Maçonaria Francesa, inspirou um universo de ritos e rituais ao longo do tempo. Pode-se afirmar que as obra foi a "Bíblia" da Maçonaria Especulativa e da Lenda do Terceiro Grau.
Foi a partir das obras de Graham, Prichard e Travenol que a Maçonaria eclodiu em todo o Orbe, atravessando fronteiras e o tempo.
Pesquisa por: JM, 2001-2009 - GR-33